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Testes para a Covid-19: como são e quando devem ser feitos
Para que sejam tomadas decisões certas em favor da saúde pública, primeiro é
necessário identificar bem a magnitude da ameaça à população, hoje, do novo
coronavírus (SARS-CoV-2, causador da Covid-19). Isto é possível por meio dos
testes para detectar a doença e, por essa razão, a testagem no maior número
possível de cidadãos é fundamental para enfrentar o vírus, conforme
recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os testes permitem aos governos e profissionais da saúde terem uma dimensão
real da propagação do vírus na sociedade, acompanhar as cadeias de transmissão
da doença, detectar pacientes assintomáticos ou aqueles que em algum momento
tiveram a Covid-19 e não descobriram, além de identificar a transmissão do
vírus por áreas geográficas e faixas etárias, entre outros parâmetros.
Existem dois tipos principais de testes usados na pandemia do novo
coronavírus: testes sorológicos rápidos – também chamados de "testes
rápidos" porque dão resultados em 20 minutos e servem como primeiro filtro
de detecção - e testes moleculares, que levam cerca de duas horas para o
resultado. Para compreender mais sobre os testes, o pesquisador do Laboratório
de Alta Complexidade do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do
Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Zilton Vasconcelos esclarece
abaixo as questões:
Quais são os tipos de testes disponíveis hoje para a Covid-19?
ZV: Existe o RT-PCR, ou teste molecular, que pesquisa a presença do Ácido
ribonucleico (RNA) viral, que é o material genético do vírus SARS-CoV-2 e que
dura cerca de duas horas para ser executados em estrutura de laboratório.
Também existem os testes sorológicos rápidos que pesquisam a presença de
anticorpos contra o vírus em 20 minutos em média e sem a necessidade de
estrutura de laboratório, e os testes Elisa e Clia que também avaliam a
presença de anticorpos, mas necessitam de uma estrutura de laboratório, e duram
cerca de quatro horas. No entanto, o processo de coleta, processamento e
preparo das amostras para o início dos testes no laboratório também consomem
tempo que é proporcional ao volume de amostras que a unidade de saúde recebe.
Dessa forma, ensaios de Elisa são normalmente liberados em 24 horas e RT-PCR no
mesmo dia quando a rotina ainda não atingir a capacidade instalada do
laboratório.
Existe algum tipo de fiscalização dos testes disponíveis hoje?
ZV: Sim, todos os testes são registrados na Anvisa e têm que ser liberados
previamente para a comercialização e uso para diagnóstico. São exigidos
documentos da empresa, como Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE) e
Certificação de Boas Práticas de Fabricação (CBPF). Além disso, devem ser
apresentados documentos sobre o produto a ser registrado, tais como ensaios
clínicos, fluxo de produção, estudo de estabilidade, segurança, qualidade e
eficácia. A Fiocruz realiza algumas dessas avaliações no Instituto Nacional de
Controle de Qualidade em Saúde (INCQS).
Quando uma pessoa deve procurar fazer o teste?
ZV: Se estamos falando de teste molecular para detecção do vírus através de
amostras de secreção nasal ou da garganta do paciente, a partir do terceiro até
o sétimo dia de sintomas pode fazer o teste. Já existem evidências que períodos
anteriores e posteriores a esses, podem apresentar ainda resultados positivos
para a Covid-19, no entanto, aumenta bastante a chance de um teste falso
negativo, ou seja, a pessoa está infectada, mas não é detectado pelo teste.
No caso dos testes para detecção de anticorpos, as informações são ainda
mais controversas, mas de maneira geral, acredita-se que após sete dias de
sintomas, inicia-se a detecção no sangue de anticorpos na fase aguda da doença
(IgM), indicando contato recente com o vírus. Após 11 dias de sintomas,
anticorpos associados à fase convalescente da doença (IgG) começam a ser
detectados no soro e permanecem por um período maior no nosso organismo e
indicam desenvolvimento de imunidade mas não garantem a proteção. No entanto,
essa dinâmica de geração de anticorpos ainda não está totalmente confirmada,
além que muitos fabricantes apresentam diferente performance dos testes,
tornando as interpretações e conclusões sobre a fase da doença e certeza
diagnóstica ainda mais complexas.
Quais são as diferenças entre os testes rápidos e os testes
moleculares?
ZV: Os testes rápidos sorológicos, por imunoensaio enzimático (teste Elisa)
e por imunoensaio quimioluminescente (teste Clia) têm o objetivo de detectar
anticorpos específicos contra a Covid-19 que o nosso organismo produz em
resposta à infecção viral, visando controlar e eliminar tanto o vírus como
células infectadas. Esses testes são indicados a partir do sétimo dia de doença
e os resultados negativos não descartam o contato prévio com o vírus, que devem
ser repetidos após uma semana para confirmação.
Já o teste molecular detecta o material genético do vírus, que nesse caso é
uma molécula de ácido ribonucleico (RNA) convertida a ácido desoxirribonucleico
(DNA) no laboratório, para facilitar o teste molecular por reação em cadeia da
polimerase (PCR). Esse teste molecular deve ser realizado entre o terceiro e
sétimo dia de sintomas para aumentar a chance de detecção RNA viral e um teste
negativo não descarta a infecção, apenas indica que naquele momento sua carga
viral é indetectável.
O que buscam os testes?
ZV: No caso de testes moleculares, buscamos detectar o material genético do
vírus em uma sequência específica de uma das proteínas virais. Dessa forma, o
PCR tem o objetivo de escolher um "pedaço" dessa sequência e
multiplicá-la no laboratório até o momento que sua "visualização" é
possível. Essa "visualização" é feita através de equipamentos
específicos que detectam um sinal luminoso gerado a cada cópia do material
genético do vírus durante o PCR. Quando essa luz gerada ultrapassa um valor
mínimo o teste é considerado positivo.
No caso dos testes sorológicos, desejamos detectar a presença de anticorpos na fase aguda e na fase convalescente da doença (do tipo IgM e IgG) presentes no sangue e que reconheçam apenas proteínas da Covid-19. O teste consiste em deixar o soro em contato direto com essas proteínas por um tempo. Em seguida, um segundo anticorpo reagente que reconhece IgM ou IgG é adicionado, e mudará a coloração do ensaio indicando a presença deles. Conforme a intensidade dessa coloração, sabemos a proporção de anticorpos presentes.
No caso dos testes sorológicos, desejamos detectar a presença de anticorpos na fase aguda e na fase convalescente da doença (do tipo IgM e IgG) presentes no sangue e que reconheçam apenas proteínas da Covid-19. O teste consiste em deixar o soro em contato direto com essas proteínas por um tempo. Em seguida, um segundo anticorpo reagente que reconhece IgM ou IgG é adicionado, e mudará a coloração do ensaio indicando a presença deles. Conforme a intensidade dessa coloração, sabemos a proporção de anticorpos presentes.
Se a pessoa apresenta anticorpos significa que é imune à Covid-19?
ZV: Ainda não existem estudos que comprovem ou afastem a imunidade
protetora. O conhecimento que se tem atualmente é baseado nas outras
coronaviroses, onde estima-se uma proteção/imunidade por períodos superiores a
um ano.
Uma pessoa com anticorpos pode transmitir o vírus?
ZV: É desconhecido. Como dito anteriormente, anticorpos IgM são geralmente
associados com o contato viral recente e IgG indica um contato anterior. No
entanto, a dinâmica desses anticorpos em Covid-19 ainda é controversa e depende
de mais estudos. A recomendação é de isolamento por 14 dias após o início dos
sintomas, independente da presença de anticorpos ou testes moleculares
negativos. Caso os sintomas persistam, esse período de isolamento deve ser
revisto.
Onde fazem os testes para detecção da Covid-19 no Rio de Janeiro?
ZV: Na rede pública foram distribuídos testes sorológicos ou rápidos da rede
de laboratórios centrais conhecida como LACEN, que no Rio de Janeiro é
representada pelo Laboratório Central Noel Nutels. A rede privada conta também
com testes rápidos, moleculares e oferece detecção de anticorpos através dos
testes Elisa e Clia.
Há acompanhamento de quais são realizados pela rede particular?
ZV: Esse acompanhamento é uma tarefa da Anvisa. Porém, laboratórios e
clínicas públicas e privadas passam por processos de auditoria interna e
externa, acreditações e certificações tanto em âmbito nacional como
internacional que observam constantemente as práticas correntes e documentações
sobre todos os procedimentos e exames realizados. Esses processos auxiliam os
órgãos regulatórios e permitem um maior controle de todos os integrantes do
Sistema Único de Saúde (SUS).
As farmácias estão autorizadas para realizar testes do coronavírus?
ZV: Sim. A realização de testes rápidos para Covid-19 foi autorizada
pelo governo tanto em farmácias, como em drogarias, consultórios, clínicas
médicas e de imunização, laboratórios de análises clínicas e postos de coleta.
Os testes só podem ser feitos em pessoas com quadro respiratório agudo e os
resultados devem ser notificados às autoridades de saúde. A medida tem caráter
provisório e excepcional e somente estabelecimentos previamente licenciados
pela Subsecretaria de Vigilância Sanitária poderão realizar os testes, que
também precisam ser registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa).
IFF/Fiocruz inicia testagem dos trabalhadores
O IFF/Fiocruz está realizando testes sorológicos na sua equipe, para
descobrir seu estado imunológico contra a Covid-19. Como esperado em casos de
pandemia, os profissionais da saúde são essenciais para a recuperação da
população doente, portanto é necessário preservar o bem-estar dos
trabalhadores.
“A testagem da equipe de trabalho do Instituto faz parte de um inquérito
sorológico de toda a Fiocruz para avaliar os impactos da Covid-19 entre os
trabalhadores e estudantes que estão envolvidos com o cuidado direto aos nossos
usuários. Para isso, foi organizado um espaço apropriado nas instalações do
Colégio Brasileiro de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Cbae/UFRJ), ao lado da instituição, amplamente arejado e que foi mobiliado de
tal forma que permite a coleta simultânea de até seis trabalhadores por vez,
totalizando 1200 coletas ao longo de 10 dias. A coleta é voluntária, seus
resultados são individuais e não definem um ‘passaporte imunológico’ para os
que testarem positivo”, comenta o diretor do IFF/Fiocruz, Fábio Russomano
Por: Mayra Malavé Malavé (IFF/Fiocruz)
https://portal.fiocruz.br/noticia/testes-para-covid-19-como-sao-e-quando-devem-ser-feito
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